Militares mataram e sumiram com restos mortais de 10 baianos na guerrilha do Araguaia

Ao menos 10 baianos foram mortos na guerrilha do Araguaia, durante a ditadura militar, no Estado do Pará. Seus restos mortais, provavelmente enterrados na Selva Amazônica, até hoje não foram encontrados por familiares. A informação é de Leonardo Jun F. Hidaka, da Comissão Nacional da Verdade, que investiga os casos de tortura durante o regime. O pesquisador participou, na última sexta-feira (8), do 1º Seminário Memória e Verdade, organizado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA), ao lado do presidente da Comissão Especial da Verdade da Assembleia Legislativa, deputado Marcelino Galo, do presidente da Comissão Estadual da Verdade, Joviniano Neto, do presidente da Comissão da Verdade do Andes-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior),Professor Marcio Oliveira, professores e estudantes da Faculdade de Direito.

“Jovens do movimento estudantil ou que militavam em grupos políticos entraram na clandestinidade porque eram impedidos de estudar, de permanecer matriculados nas Universidades. Eles foram monitorados, perseguidos, impedidos de se matricular e frequentar a universidade, processados civil e militarmente. Outros mortos no Araguaia”, registra Leonardo, antes de acrescentar.“O coronel Sebastião Curió comandou uma tropa com 250 a 300 homens, que realizaram a repreensão no Araguaia”.

O fato dos militares permanecerem calados ou não comparecerem às oitivas convocadas pela Comissão Nacional da Verdade, analisa Leonardo Hidaka, é representativo para o colegiado, pois significa dizer que eles temem ser condenados pela violação dos direitos humanos durante a ditadura. “Eles têm uma noção muito clara da importância do testemunho deles, e do que ele pode representar, judicialmente, contra eles próprios também. Todos planejaram sua velhice na liberdade. Não imaginaram pagar pelos crimes que cometeram ao violar os direitos humanos na ditadura”, frisa.

O encontro das Comissões da Verdade serviu para trocar informações, conhecimentos e experiências e para fortalecer o trabalho de pesquisa e investigação. “Nosso objetivo é somar forças e gerar informações importantes para a pesquisa. Na busca da verdade e por justiça”, afirma a professora Isabela Fadul, integrante do colegiado na UFBA. “Para a compreensão da história recente do nosso estado é muito importante à coleta desses depoimentos. Por isso esse encontro é fundamental porque estabelece uma integração entre as Comissões da Verdade para que possamos desenvolver um trabalho minucioso e em conjunto para a promoção da verdade e da justiça, através da elucidação dos fatos do período de chumbo do nosso país”, destaca Marcelino Galo. “As pesquisas e estudos são importantes para a história e memória, mas elas devem, sobretudo, balizar uma rede com capacidade política de mobilização popular para se fazer justiça”, ressalta o petista, presidente da Comissão Especial da Verdade na Assembleia Legislativa.

Os dez baianos mortos na guerrilha do Araguaia sãoAntônio Carlos Monteiro Teixeira e Dinalva Monteiro Teixeira (formados em Geologia pela Universidade Federal da Bahia); Dinaelza Santana Coqueiro (estudante de Geografia da Universidade Católica de Salvador); os irmãos José Lima Piauhy Dourado (estudante da Escola Técnica Federal da Bahia) e Nelson Lima Piauhy Dourado (da Petrobras); Demerval Pereira Souza e Rosalindo Souza (formados em Direito na Ufba); Uirassu de Assis Batista (estudante de Direito da Ufba). Vandick Reidner Pereira Coqueiro (estudante de Economia da Ufba), e Maurício Grabois, que não concluiu o curso de agronomia no Rio de Janeiro.