João Leonardo foi enterrado com nome falso de José Eduardo da Costa Lourenço, por ele adotado para tentar se proteger da perseguição da ditadura militar no Brasil. Ella se tornou intensa depois que João Leonardo e outros 14 presos políticos foram libertados,em setembro de 1969, na negociação que envolveu o sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick. Em junho de 1975, o militante político e dirigente do Movimento de Libertação Popular (Molipo) foi morto numa fazenda na região do povoado de Caraíbas por policiais militares em Palmas de Monte Alto.Seus restos mortais estão enterrados debaixo do corpo de outro morador do município do sudoeste baiano, Natalino Pereira, numa cova onde estariam pelo menos mais quatro ossadas, sepultadas em sobreposição, uma prática no pequeno cemitério do município, de cerca de 100 metros quadrados. As informações foram colhidas durante audiência pública na Câmara Municipal de Vereadores, evento organizado pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública da Assembleia Legislativa da Bahia, deputado Marcelino Galo (PT), em parceriacom o Grupo Tortura Nunca Mais e o Centro Político Cultural João Leonardo. O pedreiro Almerindo Porto Lopes, que ajudou a enterrar o corpo do desaparecido político, o agricultor Jerônimo e a enfermeira Mirtes, entre outros, deram depoimentos à Comissão no sábado (23).
“Eu era muito amigo do Tenente Oscar e naquele dia ele e o Capitão Becke, pediram para eu acompanhar eles até a fazenda. Eu disse que não iria por temer por minha vida. Depois, então, o Capitão me obrigou a subir na rural. Ao chegar à fazenda, o Tenente desceu e rodou pelo fundou. Só ouvir o pipoco. Quando chegamos lá estava o Tenente morto e o Careca (João Leonardo) atingido na perna direita e agonizando. Ele morreu em seguida”, relatou uma das testemunhas. João Leonardo seria enterrado sujo, acrescenta a enfermeira Mirtes, que vestiu o corpo do militante político. “Fui até um comércio na época e comprei uma roupa bem simples para o sepultamento”, recordou. O advogado Miguel Arcanjo, em depoimento aos membros da Comissão, contestou o inquérito policial produzido na época. Para ele, a peça “fajuta” contraria as informações dos colaboradores na época do assassinato de João Leonardo.
“Ante um cenário atual onde o execrável coronel Ustra é exaltado, e se apresenta riscos concretos de retrocessos no campo das conquistas sociais e das liberdades individuais e democráticas, é fundamental que revisitemos nossa História e, sobretudo, possamos esclarecer os fatos relacionados ao assassinato de brasileiros, como João Leonardo, que deram sua vida pela democracia e pelas liberdades conquistadas pelo povo brasileiro”, enfatizou Galo, ao recordar que Palmas de Monte Alto tinha um histórico de conflito de terra, grilagem e perseguição aos trabalhadores camponeses. O parlamentar também esteve no cemitério local e visitou a sepultura em que os restos mortais de João Leonardo podem estar enterrado. “Agora é concluir o relatório para pedir a exumação dos restos mortais. Leonardo está enterrado em baixo de dois corpos, isso exige um trabalho mais minucioso”, pontuou Marcelino Galo, ao destacar que João Leonardo pode ser homenageado emprestando seu nome a uma rua, praça ou órgão público em Palmas de Monte Alto, por sugestão de Ivan Seixas, ex-preso político e membro da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, ao presidente da Câmara Municipal de Vereadores, Neto Porto.
Também participaram da audiência Ana Corbisier, ex-presa política e membro do Movimento de Libertação Popular (Molipo); Celso Horta, ex-preso político, jornalista e biógrafo de João Leonardo; Diva Santana, integrante Grupo Tortura Nunca Mais – Bahia; Wanderson Pimenta, do Centro Cultural João Leonardo, da população e autoridades locais.