Exploração midiática da violência é criticada em audiência na Assembleia Legislativa

Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública da Assembleia Legislativa da Bahia, o deputado estadual Marcelino Galo (PT) criticou a espetacularização da miséria humana durante a cobertura pela imprensa especializada de fatos violentos e que envolve o desrespeito aos direitos humanos na Bahia. Durante audiência pública conjunta promovida pelas Comissões de Direitos Humanos e Segurança Pública e a de Combate ao Racismo, nesta terça-feira (5) para debater a temática, o parlamentar lembrou que a dramatização somada à narrativa emocional sobre determinado episódio constitui estratégia para garantir e assegurar a atenção da audiência pela imprensa em detrimento do respeito à dignidade humana.

“A exploração midiática da pobreza e da violência, com o recorte da coisificação e estereotipização das pessoas, como se elas não tivessem uma identidade, uma história e uma família, constitui em uma clara violação dos direitos humanos. Acho que ao trabalhar nessa perspectiva, alguns veículos prestam um desserviço à cidadania e a democracia do nosso país”, afirmou Galo, ao considerar o direito à comunicação como elemento complementar fundamental no processo de formação e emancipação do cidadão.

O professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, Giovandro Ferreira, defendeu o fortalecimento do Conselho Estadual de Comunicação e criticou a cobertura desigual da imprensa quando um mesmo assunto tem como personagens centrais jovens da periferia e da classe média. “A imprensa é dura com os fracos, e meiga com os fortes”, sentenciou Ferreira,que estuda o tema há alguns anos e lançou o livro “A Construção da Violência na Televisão e em Jornais Impressos na Bahia”, publicado pela Editora da Ufba.“Em que os meios de comunicação estão ajudando a educar nossas crianças? A transformá-los em cidadãos?”, refletiu.

Outro ponto destacado na audiência foi a cobertura de gênero da mídia, que, segundo a jornalista e professora da Universidade Federal da Bahia, Maíra Kubik, reforça o estigma de sociedade patriarcal no Brasil. Ela criticou à cobertura fragmentada de fatos relacionados à violência contra mulher. “Há uma distorção muito grande no papel da mídia. A gente tem as mulheres, principalmente as pobres e negras, excluídas e coisificadas pela mídia. Os meios de comunicação cumprem um papel de manutenção da hegemonia, essa hegemonia que exclui uma parcela da população”, ressaltou.

Também participaram do debate o presidente da Comissão Especial de Promoção da Igualdade, deputado Bira Coroa, Eduardo Rodrigues, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-Ba, a defensora pública Valmeire Pimentel, Paulo Victor Melo, do Coletivo Intervozes, Enderson Araújo, da Mídia Periférica, representantes da Cipó Comunicação Interativas e estudantes do curso de jornalismo da Unime.