Bandeiras defendidas por Jango continuam vivas, afirma Marcelino Galo

A exumação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart, morto na Argentina em 1976, além de histórica e simbólica acontece em um momento oportuno às bandeiras defendidas pelo ex-presidente, deposto do poder pelos militares em 1964. Entre elas, a principal, as Reformas de Base. A afirmação é do deputado estadual Marcelino Galo (PT), presidente da Comissão Especial da Verdade da Assembleia Legislativa, que participará da recepção dos despojos de Jango em Brasília, representando a Bahia, nesta quinta-feira (14). De acordo com o petista, as manifestações populares nas ruas do Brasil em junho, que defendia, dentre outras coisas, as reformas política e agrária e mais investimento em saúde e educação, estão conectadas com o que João Goulart foi impedido de fazer pelos militares na década de 60.

“Este é um momento de reparação histórica, de busca da verdade e promoção da memória. De diálogo com a atualidade. Jango é uma figura fundamental da nossa história, um visionário, que defendeu o que ainda hoje, 37 anos depois de sua morte, precisamos fazer; as reformas de base, que, por sinal, estavam na pauta das mobilizações populares de junho pelo país”, analisa Marcelino.

Os restos mortais do ex-presidente serão recebidos com homenagens fúnebres de chefe de Estado e honras militarespela presidente Dilma Rousseff, na base aérea do aeroporto internacional de Brasília. Os despojos do João Goulartserão exumados no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, na Capital Federal, para dar início aos trabalhos que tentarão comprovar a causa da morte.

Na época Jango foi enterrado às pressas em sua cidade natal, São Borja (RS),sem a realização de autópsia. A suspeita é de que o ataque cardíaco que causou sua morte tenha sido provocado pela ingestão de substância misturada criminosamente aos medicamentos que tomava em virtude de problemas cardíacos. O processo de exumação dos restos mortais do ex-presidente teve início em 2007, quando os familiares solicitaram a reabertura das investigações sobre sua morte ao Ministério Público Federal. Após o arquivamento do caso pelo órgão, eles recorreram à Secretaria dos Direitos Humanos, baseando-se em revelações feitas por Mário Neira Barreiro, ex-agente da ditadura uruguaia, preso em Porto Alegre, que garantiu que Jango foi morto pela Operação Condor. A exumação foi determinada em abril do ano passado pela Comissão Nacional da Verdade, criada pela presidente Dilma.

Um grupo de trabalho, vinculado a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, será responsável por providenciar a realização de exames e atividades periciais do ex-presidente.O laudo oficial conclusivo será entregue à ministra Maria do Rosário e à Comissão Nacional da Verdade, mas ainda não tem data definida para ficar pronto. Já os restos mortais de João Goulart retornam a São Borja, no Rio Grande do Sul, no dia 6 de dezembro.