O projeto Cultivando Água Boa, programa instituído pela Itaipu Binacional, foi apresentado pelo diretor de coordenação da companhia, Nelton Miguel Friedrich, como experiência exitosa e premiada pela Organização das Nações Unidas a ser replicada em outros estados durante o “Seminário das Águas, Experiências e Desafios em Tempos de Mudanças Climáticas”, nesta segunda-feira (15), na Assembleia Legislativa. O evento organizado conjuntamente pela Frente Parlamentar Ambientalista da Bahia e pela Frente Parlamentar de Saneamento Ambiental da Câmara de Vereadores de Salvador refletiu a necessidade da recuperação da mata ciliar, da preservação das nascentes e das Bacias Hidrográficas, além da mudança de comportamento do homem em relação ao meio ambiente, como, por exemplo, com o reuso da água como medida de consumo inteligente. A necessidade de atualizar a legislação e revisar a Política de Recursos Hídricos também foi apontada como importante ante o cenário de estiagens prolongadas.
"Discutimos aqui uma experiência brasileira, organizada e produzida por brasileiros, que é referente à produção da água. O coordenador de meio ambiente da Itaipu Binacional, onde se encontra um dos maiores reservatórios do mundo, construído para produzir energia, teve a oportunidade de desenvolver uma experiência sobre a preservação das bacias hidrográficas vinculadas àqueles reservatórios. Nosso objetivo foi apresentar essa experiência, principalmente para nós que temos a região do São Francisco, especialmente o Lago do Sobradinho, numa condição crítica, e fazer um debate aberto, que deve ser tratado como ciência e não como politicagem, pois a questão da água é uma coisa séria e que tem haver com o futuro da humanidade", afirmou o deputado Marcelino Galo, que coordenou o encontro.
O programa Cultivando Água Boa contempla diversas ações socioambientais relacionadas com a conservação dos recursos naturais e da biodiversidade, envolvendo comunidades da Bacia Hidrográfica do Paraná 3, região conectada pelos rios e córregos com o reservatório da usina de Itaipu, responsável por 19% de toda energia consumida no Brasil. De acordo com Nelton Friedrich, já são 20 programas, 65 ações, 315 oficinas realizadas e 2.146 parceiros envolvidos na promoção da qualidade de vida nas comunidades a partir da preservação das Bacias Hidrográficas. “Começamos há 12 anos com duas microbacias e estamos atingindo 217. O mais importante é que o programa não é da Itaipu Binacional, é uma experiência que inaugura uma governança que busca, a cima de tudo, horizontalizar todas as suas ações”, ressaltou.
A coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, apontou o desmatamento como um dos principais responsáveis pela estiagem que atingiu 1.442 municípios apenas na região sudeste. De acordo com ela, um hectare de Mata Atlântica bem conservada pode produzir até 10 mil litros de água, enquanto 100 hectares produzem água suficiente para satisfazer a necessidade de 2.600 pessoas. “Isso muda o preço da cesta básica e tem reflexos em nossa vida”, sentenciou Ribeiro, ao lembrar que o novo Código Florestal reduziu a faixa de proteção da mata ciliar.
DESMATAMENTO – O Atlas da Mata Atlântica aponta que, entre 2013 e 2014, o desmatamento em 17 estados superou os 18.267 hectares no Brasil. O município de Baianópolis, no oeste baiano, aparece em segundo lugar na lista, com perda de 1.522 hectares de mata nativa. Segundo a Agência Nacional de Águas, apenas a sedimentação dos corpos d’água acarreta prejuízos que superam os R$ 2 bilhões.
Também participaram do evento o vereador de Salvador, Gilmar Santiago, Celson Pinheiro, superintendente de infraestrutura hídrica do Estado, Célio Costa Pinto, superintendente do Ibama, representantes da secretaria de Meio Ambiente do Estado, do Inema, da Fapesca, da Companhia de Engenharia Ambiental e Recursos Hídricos da Bahia, da Secretaria da Saúde do Estado e alunos do Centro Estadual de Educação Profissional em Negócios e Turismo Luiz Navarro Brito.