Última clandestina do Brasil depõe em Vitória da Conquista

Mulher que mais tempo viveu na clandestinidade no Brasil, Maria José Malheiros foi Maria três vezes para fugir da perseguição dos agentes da ditadura militar. Em Vitória da Conquista, onde morou como "filha" do também militante político José Gomes Novais, na década de 70, ela depôs, na noite desta terça-feira (25), à Comissão da Verdade local, na Câmara de Vereadores. “Fiquei em Vitória da Conquista um ano e três meses convivendo com a família de José Novaes, fugindo da repreensão”, lembra.

O presidente da Comissão Especial da Verdade da Assembleia Legislativa, deputado Marcelino Galo (PT), considerou o testemunho da militante comunista mais uma etapa importante para a história e para o resgate da verdade no Brasil. De acordo com Galo é fundamental que o Estado Brasileiro faça essa reparação aos perseguidos pelo regime. “É mais uma etapa importante na busca da verdade e de lançar luzes sobre um período extremamente escuro e ruim para o Brasil. De modo que este evento é muito importante também para a história de Vitória da Conquista”, afirma o petista.

Maria José Malheiros foi expulsa daEscola de Belas Artes da Universidade Federal de Goiás, demitida do jornal O Popular, por conta da censura, perseguida e sequestrada em casa por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Para fugir do regime passou por São Paulo, Goiânia, Rio de Janeiro. Refugiou-se em Vitória da Conquista e em Salvador. Foi Maria Neide e Maria José Novaes, antes de ser Maria José Malheiros. Militou e atuou na campanha pela anistia ao lado deEmiliano José,José Sergio Gabrielli, Oldack Miranda, José Carlos Zanetti, Milton Vasconcelos, Péricles Souza, Jorge Almeida, dentre outros. Atualmente, além de trabalhar na prefeitura de Paris, onde reside há 30 anos, a baiana formada pela Universidade Federal da Bahia em arquitetura e urbanismo é professora universitária.Em outubro recebeu anistia do Estado Brasileiro durante a 76ª sessão da Caravana da Anistia, realizada na Faculdade de Direito da USP, em São Paulo. Ela adotou definitivamente o nome usado na clandestinidade, repassado aos filhos. “Hoje eu não preciso esconder mais para os outros quem sou”, conclui. Naaudiência pública, conduzida pelopresidente do colegiado municipal, vereador Florisvaldo Bittencourt (PT), também foi lançado um site da Comissão Municipal da Verdade de Vitória da Conquista.Também participou do encontro o jornalista, escritor e ex-deputado federal Emiliano José (PT).