Sessão especial homenageia os dez anos da Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo da Bahia

A Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo da Bahia (Coetrae-BA) foi homenageada, nesta sexta-feira (27), com uma sessão especial na Assembleia Legislativa do estado, proposta pelo deputado estadual Marcelino Galo.

A professora do Instituto de Geociências da UFBA (Geografar), Guiomar Inez, parceira da Comissão, apresentou um mapeamento do trabalho escravo na Bahia. Entre os dados apresentados está o que aponta que o município de São Desidério, no extremo oeste, lidera o número de trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão – de 2003 a 2019, foram 1044, sendo que em todo estado este número foi de 4.191. “Dos 105 casos registrados, 14 foram em São Desidério, o que nos acende um alerta para esta cidade, dominada pelo agronegócio. A luta contra a escravidão é também contra a tirania que se estabelece no seio de uma sociedade que admite escravizar os indivíduos. Na verdade, a sociedade nem se dá conta que o trabalho escravo está perto de todo mundo”.

Este fato também foi pontuado pelo deputado estadual Marcelino Galo, ao lembrar os mais de 300 anos de escravidão que o Brasil vivenciou e que ainda se materializa em relações modernas. “Tivemos mais de cinco milhões de pessoas trazidas de África para sofrer aqui. Arrancados dos seus berços maternos, sem a possibilidade de reivindicar condições de sobrevivência morreram sem gozar de uma vida digna. Ainda hoje, essa cultura entranhada na cabeça da elite e classe média, contagia até os mais pobres e humildes moradores do país, apresentando um cenário em que a escravidão ainda está presente”.

O coordenador da Coetrae-BA, Admar Fontes Júnior, parabenizou a comissão e a todos e todas que atuam no combate ao trabalho escravo na Bahia. “Estamos cada vez mais no caminho certo para erradicar as condições degradantes de trabalho em nosso estado. Trabalho esse que é referência para o país”. A procuradora do Ministério Público do Trabalho, Adriana Campelo, órgão que faz parte da Força Tarefa de Resgate às Vítimas de Tráfico de Pessoas e Trabalho Escravo, também parabenizou o trabalho da comissão e afirmou que “é possível termos crescimento econômico com dignidade para os trabalhadores”.

O Superintendente de Apoio e Defesa aos Direitos Humanos, da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), Jhones Carvalho, ressaltou o trabalho dos servidores. “Temos pessoas comprometidas e que arriscam suas próprias vidas para resgatar a vida de outros. Trabalhadores que muitas vezes precisam ser convencidos a renunciarem a esta situação por medo do que pode acontecer depois. A Coetrae faz o resgate da dignidade e da luta contra a exploração do ser humano pelo próprio ser humano e por isso é fundamental este trabalho”.

A Orquestra Neojibá, núcleo Liberdade, que acolhe crianças, adolescentes e jovens, fez uma apresentação durante a sessão em homenagem à Coetrae.

Participaram ainda da atividade o Juiz do Trabalho, Angelo Rico, a representante e coordenadora da Avante – Educação e Mobilização Social, Ana Burato, o coordenador técnico da Superintendência de Desenvolvimento do Trabalho, Hildásio Pitanga e Lidiane Barros, representante do Sindicato dos Auditores Fiscais do Trabalho na Bahia.