Para debater as graves consequências e perdas socioambientais causadas pelo fogo ateado na Amazônia, Pantanal e em outros biomas brasileiros, a Frente Parlamentar Ambientalista da Bahia e o Forum Popular da Natureza promoveram, na manhã desta quinta-feira (24), um painel virtual com ambientalistas, pesquisadores e especialistas da área. Com o tema “Incêndio Brasil”, o debate foi mediado pelo coordenador da Frente e líder do PT na Assembleia Legislativa, deputado Marcelino Galo, que iniciou a sua fala destacando a importância da discussão e alertando para o aumento alarmante do número de incêndios florestais no país.
“O Brasil está sendo consumido pelo fogo. O fogo está na Amazônia, maior floresta tropical do mundo; está no Pantanal, um dos mais ricos ecossistemas e a maior planície alagável do mundo, que abrange três países, e já chegou a Bahia, justamente no cerrado, no município de Barra. Essa é uma questão que se repete anualmente por uma prática de pecuária atrasada, fruto de um desgoverno que usa o fogo para limpeza de pastos. A proposta é transformar esse país em um imenso ‘fazendão’ de produzir mercadorias”, observou Marcelino.
De acordo com o doutor em Desenvolvimento Sustentável e pesquisador em Monitoramento Territorial do Instituto Socioambiental (ISA), Antonio Oviedo, é preciso debater as causas e, sobretudo, as perspectivas futuras sobre os incêndios. Segundo ele, apesar de existirem diferentes tipologias de fogo, essas queimadas estão ligadas às atividades de grilagem, invasão e desmatamento ilegal. “De cara a gente percebe que o vilão não são as populações tradicionais e indígenas. Não são eles os responsáveis pelos incêndios que estamos vendo todos os dias nos meios de comunicação”, afirmou o pesquisador. Como exemplo, Oviedo destacou que a Amazônia tem quase 25% do seu bioma coberto por terras indígenas, e somente 7% dos incêndios são registrados dentro desses territórios. “Definitivamente, não dá para atribuir a responsabilidade dessa ilegalidade aos índios e comunidades tradicionais”, disse.
Outro ponto importante levantado pelo pesquisador do Instituto Socioambiental foi a hipótese de que a Floresta Amazônica é úmida e, portanto, não permite a propagação do fogo. Antonio Oviedo explicou que, apesar de algumas regiões apresentarem uma cobertura florestal bastante úmida, com grandes extensões alagáveis, existem regiões onde o desmatamento promove a fragmentação da floresta e aumenta as interfaces com ambientes não florestais. “Essa troca vai ressecando a floresta e, em uma atividade de limpeza de pasto, por exemplo, esse fogo pode escapar pelas áreas que se encontram mais secas. Imagine uma árvore amazônica com 50 metros de altura, quando encontra o fogo ela vai queimar dois ou três dias seguidos. Portanto, essa afirmação de que a floresta é úmida e não pega fogo, só se tornaria uma verdade mais abrangente se estivéssemos a 60 anos atrás”, explicou.
Os fatores que podem estar contribuindo para os incêndios e as perdas socioambientais causadas pelo fogo nos biomas brasileiros foram apresentados pela doutora em Ecologia, Margareth Maia. Ela também criticou a tentativa do Governo Bolsonaro de minar as instituições que produzem informações sobre os biomas, e o uso adequado dos recursos naturais. “Toda essa desestruturação dos instrumentos de política pública ambiental em nosso país são inúteis, porque as informações produzidas pela ciência são imparáveis. O presidente Jair Bolsonaro está fazendo uma campanha maldosa contra o Brasil ao afirmar que a Amazônia não pega fogo. O nosso país e mundo inteiro pode acessar essas informações, e ter conhecimento do que está ocorrendo em relação aos focos de incêndios”, reforçou Margareth Maia.