Marcelino Galo quer 1,5% do orçamento do Estado para cultura

Durante a entrega da Comenda 2 de Julho a personalidades da dança na Bahia, o deputado estadual Marcelino Galo (PT), proponente das homenagens, voltou a defender a ampliação do orçamento da cultura de 0,8% para um mínimo de 1,5% no Estado da Bahia. Foram condecorados com a honraria Dulce Aquino, Mestre King, Lia Robatto e Carlos Moraes. A declaração do petista, que pretende apresentar ao Governo do Estado um Projeto de Indicação sobre o assunto, aconteceu nesta quinta-feira (16) na Assembleia Legislativa durante Sessão Especial em comemoração ao Dia Internacional da Dança, celebrado em 29 de abril.

“Além de homenagear grandes ícones desta arte e promover uma grande mostra de dança, esta é também uma oportunidade para discutir as políticas públicas de cultura. Por isso nosso foco está na construção de uma grande mobilização da sociedade baiana para a ampliação do orçamento da cultura em nosso estado, com a garantia de no mínimo 1,5% do orçamento para o setor”, afirmou Galo, ao considerar que a realização pelo terceiro ano seguido da Sessão Especial e da Mostra de Dança na Assembleia Legislativa consolidou a pauta cultural no parlamento.

Uma das homenageadas, a coreógrafa, pesquisadora e professora Dulce Aquino também engrossou a campanha puxada por Galo pelo aumento do orçamento para cultura no estado. “Esse é um apelo, um pedido, uma reivindicação que vem de longas datas. O Gilberto Gil e Juca Ferreira já colocaram isso no Ministério da Cultura, com 2% para o federal e 1,5% para os estaduais. Isso é essencial. Inclusive Juca tinha deixado com 1,5% no ministério, mas caiu para zero alguma coisa, como aqui na Bahia é zero alguma coisa. Então avançar com isso é fundamental, e Marcelino tem uma sensibilidade e capacidade enorme de realizar os nossos sonhos, que também são sonhos dele”, afirmou.

Primeiro homem a se graduar em Dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e precursor da dança afrobrasileira, o professor e coreógrafo Mestre King destacou a importância da linguagem artística para a cultura e inclusão social na Bahia. “A dança educa. Já tirei muita gente da sombra, coloquei no sol, e hoje eles estão na Europa divulgando a cultura baiana. A dança é fundamental, mas precisa ser acompanhada da formação intelectual. Porque não adianta dançar bem, e não saber falar direito”, observou Mestre King, ao ressaltar que suas apresentações artísticas são feitas com a movimentação da capoeira, dos orixás e das danças populares.

COMENDA –Mais alta condecoração do Poder Legislativo da Bahia, a"Comenda Dois de Julho" foi instituída para homenagear as pessoas que contribuem ou tenham contribuído para o desenvolvimento político e administrativo da Bahia e do Brasil.

Mini-biografias dos homenageados:

Mestre King

Raimundo Bispo dos Santos, 72, baiano conhecido internacionalmente como Mestre King, professor e coreógrafo, desenvolveu um método que misturava elementos de danças folclóricas e populares brasileiras como as dos orixás do Candomblé, que resultou na dança afrobrasileira. Ele montou mais de 100 coreografias e dividiu seu conhecimento em diversos países do mundo.

Mestre King foi o primeiro homem a se graduar em Dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Considerado pai da dança afro, ele é precursor da dança afrobrasileira como elemento do repertório cultural baiano. Mestre King também é uma das maiores autoridades em tradições da música e dança afrobrasileiras.

Lia Robatto

Nasceu em São Paulo e se formou em dança com as pioneiras da dança contemporânea no Brasil, Yanka Rudzka e Maria Duschenes. Veio para a Bahia com 17 anos, na época da fundação da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia – UFBA, a primeira escola de nível universitário no Brasil.Veio como assistente de Yanka e aqui conheceu Sílvio Robatto, seu marido. Casou e se estabeleceu na Bahia. Hoje tem o título de Cidadã Soteropolitana e tem dois filhos músicos da Orquestra Sinfônica da Bahia e professores da UFBA. É professora de dança, coreógrafa, pesquisadora, publicou livros na área de dança. Também é produtora cultural, tendo atuado junto à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia; foi presidente do Conselho Estadual de Cultura e hoje é conselheira. Atua muito como parecerista para as leis de incentivo e também como júri de prêmios e bolsas.

Dulce Aquino

Considerada primeira-dama da dança e da coreografia na Bahia, a dançarina, coreógrafa, pesquisadora e professora Dulce Tamara Lamego Silva e Aquino dirigiu em 1965 e por muitos anos a Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia, fundada na década de 50. Dulce Aquino foi uma das pioneiras entre as acadêmicas que se matricularam para o primeiro curso de dança em nível superior do Brasil, o da Bahia. Não havia nada parecido no Brasil, que mal conhecia o balé clássico com muitas lacunas. Dulce estudou, dançou, pesquisou e criou teses revolucionárias para o movimento e a dança no país. Como chefe do Departamento de Artes Cênicas, propôs a criação do Concurso Nacional de Dança Contemporânea. Participou das bancas examinadoras para formação de alguns dos mais importantes profissionais do país, e criou momentos importantes para a arte na Bahia.

Carlos Morais

Há mais de 50 anos, Carlos Moraes enveredou pela dança e já passou por companhias de renome no Brasil e no exterior, como o Balé da Cidade de São Paulo e o Balé do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Convidado por Dalal Achcar, ex-diretora artística da antiga Ebateca, Escola de Ballet do Teatro Castro Alves, ele chegou à Bahia em 1971. A ideia era passar apenas um mês dando aulas, como substituto de um maître de ballet inglês que não mais voltou. Gaúcho de nascimento, ele foi um dos fundadores do Balé Teatro Castro Alves, do qual também foi coreógrafo, diretor e professor. Bailarinos e professores acreditam que Moraes contribuiu muito para a profissionalização da dança na Bahia e para quebrar preconceitos em relação aos homens no balé. Carlos Moraes é considerado um mestre da dança clássica no Brasil.