Foto: Divulgação. Deputado Marcelino Galo,Sebastião Nery e o jornalista Ernesto Marques.
As primeiras articulações para o golpe militar de 1964 na Bahia, que derrubou do poder o ex-presidente João Goulart e cassou o mandato de vários políticos eleitos democraticamente, começaram na Base Aérea de Salvador. A afirmação é do jornalista baiano e ex-deputado estadual Sebastião Nery, cassado pelo regime militar no mesmo ano. Ele deu o depoimento em sua residência no Rio de Janeiro, na tarde de quinta-feira (16), ao presidente da Comissão Especial da Verdade, deputado estadual Marcelino Galo (PT). Problemas de saúde impediram que seu testemunho fosse colhido em Salvador.
“Sebastião Nery disse que bem antes do golpe militar foi convidado por militares a participar de conspirações que ocorriam dentro da Base Aérea de Salvador. Esses encontros também teriam a participação de pessoas ligadas à sociedade civil. Havia na base aérea esse grupo de conversas e articulações”, conta Marcelino.
O testemunho de Sebastião Nery coloca na ordem do dia, novamente, a queima de arquivos da ditadura militar na Base Aérea de Salvador. Os documentos destruídos, muitos com a indicação de secreto e confidencial, compreendem o período de 1964 a 1985. Entre eles, estavam prontuários, fichas e relatórios de inteligência da Marinha, Exército e Aeronáutica. A denúncia foi feita em dezembro de 2004 pelo Fantástico da Rede Globo. Um laudo produzido pela Polícia Federal no final de 2005 sobre esses documentos sigilosos apontou que os mesmos foram queimados, ao contrário da análise apresentada pela Aeronáutica no início daquele ano. Outra perícia feita pelo Instituto de Criminalística de Brasília revelou que os documentos foram destruídos na área de responsabilidade da Aeronáutica.
Base Aérea –Com as informações colhidas na oitiva com Sebastião Nery, o deputado estadual Marcelino Galo vai propor na próxima reunião da Comissão Especial da Verdade da Assembleia Legislativa da Bahia, da qual é presidente, uma visita à Base Aérea da capital para saber a destinação que foi dada a documentação que sobreviveu a destruição. O objetivo, segundo o petista, é levantar e fazer o cruzamento dessas informações junto ao Comandante da Base Aérea de Salvador, Tenente-Coronel Adolfo. “Precisamos saber onde estão esses documentos, que destinação foi dada a eles, além de ter acesso à própria investigação que foi instaurada na época pela aeronáutica”, frisa Marcelino. “Também pretendemos convidar a Comissão Estadual da Verdade para que, ao lado da Comissão Especial da Verdade da Assembleia Legislativa, possamos fazer essa visita na busca de mais informações para elucidar os fatos”, pontua o petista, ao lembrar do Inquérito Policial Militar aberto pela Aeronáutica para investigar o caso na época.