Diretor teatral Márcio Meireles recebe maior honraria do parlamento baiano

O Plenário da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) transformou-se, nesta quinta-feira (8), em um verdadeiro palco para conceder a Comenda Dois de Julho ao diretor teatral, cenógrafo e figurinista, Márcio Meireles. A mais alta honraria do parlamento baiano foi proposta pelos deputados Neusa Cadore (PT) e Marcelino Galo (PT) e concedida em meio a plateia de artistas, produtores culturais, estudantes, gestores e representantes de movimentos culturais.
Diante da figura homenageada não poderia faltar música, poesia e a própria magia do teatro. “Na bruma leve das paixões que vêm de dentro” foi o canto entoado pela Orquestra Juventude Parqueana, do Centro Educacional Carneiro Ribeiro.

A paixão de Márcio, que inspirou e formou tanta gente, estava também no grupo Black Dance, da Escola Estadual Elizabeth Veloso, que trouxe a coreografia da música Invisível da banda Baiana System.
Em sua gestão como secretário de cultura do Estado, no primeiro governo de Jaques Wagner, Meireles contribuiu para que as escolas estaduais se tornassem espaços de efervescência cultural e de transformação social, implantado políticas culturais protagonizadas pela juventude estudantil.

Parlamentares

Para a deputada Neusa Cadore, neste momento de crise vivida no Brasil a arte dá força para enfrentar os retrocessos. Segundo ela é através da cultura, como elemento de resistência e transformação, que unimos forças para superar as dificuldades.

“Hoje é um dia muito especial. Em um tempo marcado pelo crescimento do ódio e da intolerância, celebrar a vida e a trajetória de alguém que tem se dedicado integralmente às artes, à defesa da cultura em toda a diversidade, ao respeito às diferenças, à democracia, em si, já é um ato revolucionário”, avalia a deputada.

“Esta Comenda Dois de Julho tem uma função especial, neste dia, que é de reconhecer a entrega, a luta, a generosidade e a dedicação desse grande artista na construção do desenvolvimento da nossa Bahia, na valorização da nossa gente, sobretudo das matrizes africanas”, apontou Neusa.

O deputado Marcelino lembrou a trajetória do primeiro secretário de cultura de um governo popular no Estado da Bahia. Do gosto pelo desenho ao engajamento na luta contra a ditadura militar. A paixão pelo teatro e o mergulho na cultura negra. “Ele faz do teatro a sua vida para realizar mudanças, propor transformações”, afirma Galo.

O filho de Xangô

Talento, coragem e ousadia estavam presentes nos rostos e nas palavras de integrantes do Bando de Teatro Oludum. Para eles essas foram as armas usadas por Márcio para criar o grupo que contribui para o desenvolvimento de uma estética teatral negra. A homenagem deles veio em forma de agradecimento: “obrigada pela sua força junto a nós. Muito axé, Meirelles! ”.

Axé para um filho de xangô que, segundo a atriz Chica Carelli, Márcio tem a capacidade de renovar os espaços a sua volta. E se “o teatro devolve aos homens a ternura humana, Meirelles parece levar esse sentimento para os novos atores.

Para a juventude da Universidade Livre de Teatro do Vila Velha o diretor é um “mestre e parceiro, o Vila e o Márcio são um lar”. Quem tanto aprendeu com o mestre faz com arte a veneração. Os atores recitaram poesia e, entre os versos, tinha um que dizia “o encenador deve servir de espelho para o ator”.

O filho Pedro Meirelles disse que o pai tem a capacidade de sonhar, de acreditar nos sonhos e trazer pessoas para realizá-los. Já a esposa Cristina Castro ressaltou a inteligência, generosidade e ética. “Falar dele é lembrar do amor, respeito, atitude a serviço do diálogo, da troca e do outro”, afirmou.

Meirelles agradeceu

Marcio se emocionou ao lembrar o sofrimento dos povos indígenas e também dos avós e do pai. Fez questão de lembrar dos mais antigos, das mulheres negras que o ajudaram a ser o que ele é. Agradeceu aos deputados e destacou a relação com Neusa e Marcelino.

“Minha arma é a busca por justiça. A injustiça é algo que dói e me persegue, então eu preciso trabalhar, uma tentativa de reverter ou contrapor com beleza esses momentos tão difíceis que a gente vem atravessando”, ressaltou.
Se um artista tem de ir aonde o povo está, Márcio, com certeza, foi para muitos lugares e quem estava presente na Sessão sentiu essa presença nas poesias recitadas por Robert Novaes ou por Loiá Fernandes e o seu som vibrante do atabaque.

Márcio lembrou dos povos pretos, dos indígenas, LGBTS, gente que está lutando para vencer os preconceitos e as injustiças. Para ele a solução está na humanidade. “O homem é o único que sabe o que é poesia”, disse e, logo em seguida, fez um pedido para a juventude: “salvem o país”.

Um pedido do mestre que mostra, mais uma vez, que a coletividade não pode ficar de fora da peça chamada vida. A vida de Márcio que, aliás, Anne Cardoso e Miguel Campelo fizeram questão de agradecer ao cantarem a canção “Gracias a La Vida”, de Violeta Parra.

“A Bahia concede uma Comenda à arte. Eu não consigo entender que é para mim isso aqui, porque tanta gente trabalhou para este momento acontecer. Sempre foi um coletivo”, declarou Márcio.

Os gritos Lula Livre ecoaram no final de Sessão.

Outras participações

A homenagem contou ainda com as participações de Paulo Miguez, vice-reitor da UFBA, Jerônimo Rodrigues, Secretário Estadual de Educação, Sinara Federnandes, representando a Defensoria Pública do Estado, além de Renata Dias, Diretora da Fundação Cultural do Estado, e Fátima Mendonça, ex-primeira-dama do Estado.

Texto: Lino Filho