Beth da Bahia. É assim que de agora em diante a ex-vice-prefeita e ex-vereadora de Salvador, Beth Wagner, quer ser conhecida. Foi com esta afirmação que ela encerrou o longo e emocionado discurso de agradecimento ao Título de Cidadão Baiano que a Assembleia Legislativo lhe outorgou a partir da aprovação de proposição do deputado Marcelino Galo (PT). Militante política em tempo integral, a homenageada fez um duro libelo contra o “governo ilegítimo, golpista e decorativo” do presidente interino Michel Temer. E o tom em toda sessão solene foi de repúdio ao que oradores e público rotularam como “golpe”.
A entrega da condecoração teve a presença do ex-ministro da Cultura, Juca Ferreira, do deputado federal Jorge Solla e de representantes de universidades, da dança e dos movimentos sociais. Beth Wagner elogiou as manifestações que se opõem à extinção do Ministério da Cultura, compreendendo que “as reações que nós vemos esses dias não são gratuitas. A ocupação dos espaços do Ministério representa o tanto, o gigante trabalho em torno da cultura que foi feito pelo ministro Juca Ferreira”, completou.
A movimentada sessão foi iniciada e encerrada com a execução dos hinos nacionais do Brasil e da Bahia, bem como apresentações de teatro (do grupo Rosas da Democracia, do Sindicato dos Policiais Rodoviários) e de dança (da filha, Clara Boa Sorte). O plenário lotou com representações de movimentos ambientalistas e feministas, de ex-parlamentares como o Professor Valdeci, Zilton Rocha, de dirigentes de órgãos públicos, bem como de seus familiares, filha, netos e genros.
Em viagem oficial com o governador Rui Costa, o presidente Marcelo Nilo não pode comparecer ao evento, que teve a mesa de honra formada pelo proponente da homenagem, o deputado Marcelino Galo, e também por Jorge Solla, Juca Ferreira, a vice-reitora da Universidade Federal do Recôncavo, Georgina Gonçalves. E ainda pela vereadora Vânia Galvão (PT), por sua filha, Mariana Wagner; por Madalena Noronha, representante do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher; pelo presidente da Fundação Pedro Calmon, Zulu Araújo; pelo ouvidor-geral da Bahia, Yulo Oiticica; pela vice-diretora da escola de Dança da Funceb, Maria Virgínia Costa; pelo presidente da CUT-Ba, Pedro Silva; e pelo representante do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclado, Leonardo Santos.
O ex-ministro Juca Ferreira também falou na sessão solene em que Beth Wagner recebeu o título de Cidadã Baiana, fazendo um breve relato do relacionamento de amizade, cumplicidade política e identidade de ideias progressistas entre os dois que dedicaram à vida à militância política em prol de um país mais justo e desenvolvido. Ele também fez críticas à destituição da presidente Dilma Rousseff e lembrou facetas da vida política de Beth Wagner.
Um momento especialmente emocionante ocorreu quando uma de suas filhas, Mariana, leu uma longa carta da irmã, Lúcia Souto – que não pode comparecer –, com suas lembranças de vida ao lado os pais, Jaques e Beth Wagner, que inicia falando da “diáspora” familiar nos anos 70 do século passado, quando deixaram o Rio de Janeiro passando por São Paulo e Minas, até serem acolhidos na Bahia. Ela registra a vida em bairros populares como Soledade, Fazenda Grande, Itacaranha, as idas à praia da Ribeira, o trabalho de operários dos pais, a militância sindical, a militância político-partidária, os mandatos como vereadora e vice-prefeita e a luta pela transformação.
Outro forte registro foi a leitura de carta da amiga Lídice da Mata (a senadora também não pode comparecer), que exalta a tenacidade de Beth Wagner, a “inesquecível” campanha conhecida como as Três Marias, quando uma chapa majoritária para o governo estadual e senado foi integrada só por mulheres, em 1990, a chapa Lídice, Salete e Beth, replicada em parte dois anos depois quando a senadora se elegeu prefeita de Salvador (a primeira mulher), tendo Beth como vice-prefeita e secretária de Educação.
Como nota de caráter familiar, vale registrar que o diploma formalizador da concessão da cidadania baiana a Beth Wagner, vale frisar que a entrega foi feita por seus netos: Júlia, José Wagner e Laura.
Antes de encerrar a sessão, Beth Wagner ainda reforçou seu apoio ao movimento feminista, que está “vivendo um verdadeiro retrocesso, um acesso de misoginia, de ódio, de intolerância pela luta das mulheres”.
Ela também citou o período da ditadura militar e lembrou que sua irmã foi torturada por “monstros” daquele regime e criticou cada um dos ministros da administração do presidente interino, Michel Temer, “um presidente ilegítimo e decorativo, pois quem governa mesmo é Eduardo Cunha”, segundo afirmou a mais nova baiana.