Foi com uma apresentação marcante dos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (NEOJIBA), na noite desta quinta-feira (15)na sala principal do Teatro Castro Alves, que oMaestro Ricardo Castro recebeu das mãos do deputado estadual Marcelino Galo (PT) a Comenda 2 de Julho, maior honraria concedida pela Assembleia Legislativa a pessoas que contribuíram com o desenvolvimento do Estado. Castro dirigiu as apresentações que encantaram o público com as sinfonias de Ennio Morricone, Piotr Ilich Chaikovski, Frederic Chopin e, Primeiro Mês, de sua autoria, entre outras.
O maior desafio do pianista e maestro Ricardo Castro foi empreendido em 2007, quando implantou e dirigiu, em Salvador, um projeto inspirado no El Sistema da Venezuela e apoiado pelo seu fundador Jose Antônio Abreu. A convite do Governo do Estado da Bahia, Castro criou o Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (NEOJIBA), um programa pioneiro no Brasil que completa neste mês de outubro oito anos de existência e que utiliza o ensino e a prática coletiva da música como ferramentas para promover a integração, inclusão e o desenvolvimento social de crianças e jovens baianos. Para se ter ideia da importância do Neojiba, atualmente o projeto beneficia em torno de 4.600 crianças, adolescentes e jovens, a maioria em situação de vulnerabilidade social, e atua em dez bairros da capital baiana com Bases Comunitárias de Segurança e mais 21 cidades do interior do Estado.
“Num tempo de avanço das forças conservadoras onde a pauta política se volta para a criminalização da juventude, com ações iguais à redução da maioridade penal, Ricardo Castro e o Neojiba caminham no sentido oposto. Não no caminho dos que querem imputar à juventude brasileira o problema da violência ou da criminalidade. Ao contrário, Ricardo Castro trilhou o caminho da oportunidade, da convivência entre diferentes, da solidariedade, da responsabilidade social e do amor à humanidade. Uma humanidade que se revela em seu amor pela música. Humanidade que se descortina na sua esperança no futuro dos jovens e crianças que forma. Humanidade que se traduz no sentimento de pertencimento à Bahia e sua opção em contribuir para o desenvolvimento social e cultural da Bahia”, destacou o presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Marcelino Galo, autor do projeto de resolução nº 2.194/2013, que concedeu a honraria ao maestro.
“O maior paradoxo da minha vida foi ter criado o Neojiba, programa para crianças e jovens, a maioria em situação de vulnerabilidade social. A inspiração veio de amigos lutadores do país vizinho, a Venezuela. Ouvi de muita gente que isso não daria certo na Bahia, mesmo assim criamos esse paradoxo vivo que é o Neojiba. Alguém se lembra que não há registro na história musical brasileira de nenhuma outra orquestra ter realizado duas turnês internacionais em dois continentes no mesmo ano?”, recordou Castro, antes de refletir.“Receber a mais alta condecoração que alguma entidade nos concede pode dar aquela sensação de ter chegado no topo da montanha. De dever cumprido. Mas, e depois? Com tantos prêmios e vitórias, o que fazer? O caminho aqui ainda será longo, e a luta feroz. O acesso a essas linguagens artísticas não pode continuar a ser um privilégio de um punhado de pessoas ditas talentosas, profissionais, mas que na verdade são privilegiadas”, pontuou o maestro, que é natural de Vitória da Conquista, no sudoeste baiano.
Também prestigiaram a homenagem, os ex-governadores da Bahia Roberto Santos e Waldir Pires e o secretário de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social, Geraldo Reis.