Cerca de 600 índios, originários de 19 povos de todo Estado, se reuniram ontem, no gramado em frente à rampa da Assembleia Legislativa onde, até o dia 31, realizam o 1º Acampamento dos Povos Indígenas da Bahia. Segundo o presidente da Alba, deputado Angelo Coronel, o pedido para a realização do acampamento foi feito pelas lideranças indígenas com a intermediação do deputado Marcelino Galo. “O Legislativo baiano está à disposição dos povos indígenas reafirmando que aqui é a casa do povo. Espero que as reivindicações para se fazer o acampamento tenham sido atendidas”, afirmou o presidente, contando que o acampamento conta com água, eletricidade e uma equipe de saúde cedidos pela Casa.O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública, deputado Marcelino Galo (PT), ressaltou seu compromisso político com a luta indígena e agradeceu o empenho do presidente da Casa, deputado Angelo Coronel, para que o parlamento baiano apoiasse a realização do acampamento no CAB.
“Nossos parentes indígenas são, antes de todos nós, construtores desta Nação e, por isso mesmo, devem ser tratados com o respeito e toda deferência que merecem. Nossa luta política é para assegurar-lhes os direitos fundamentais e constitucionais, que ainda hoje são desrespeitados, como o mais básico e sagrado de todos para os povos indígenas que é o direito à terra”, enfatizou.
Antes da reunião no Auditório Jornalista Jorge Calmon, os manifestantes realizaram danças ritualistas no gramado onde está o acampamento durante cerca de uma hora. Depois, já no auditório, continuaram a cantar e tocar suas maracas até o início do debate. A cacique Maria Kiriri foi a primeira a falar e afirmou que veio do Oeste do Estado com outros 40 indígenas e que tem certeza que dessa vez não voltará para sua aldeia decepcionada. “Estamos lutando há dois anos e não vamos voltar para o nosso povo sem uma resposta do governo”, afirmou a líder.
O ex-deputado Yulo Oiticica, militante dos direitos humanos, ressaltou que o acampamento é o primeiro recado que os povos indígenas estão dando às autoridades baianas. “Não podemos continuar assistindo a criminalização das lideranças para atender os interesses do capital”, disse, salientando que a justiça tem sido rápida na reintegração de posse dos latifúndios e muita lenta na demarcação definitiva das terras indígenas.
O cacique Rosivaldo Ferreira da Silva, conhecido como Babau, que já foi preso pela Polícia Federal sob acusação de porte ilegal de arma e solto em seguida por falta de provas, saudou as autoridades presentes como “aliados” e disse que falaria em nome de todos os caciques da Bahia. Ele afirmou que as lideranças indígenas estão convivendo com um dia a dia de violência extrema. “Todos que estão aqui presentes já sofreram algum tipo de violência”, relatou.
Babau contou que, pela primeira vez, os povos indígenas estão agindo em parceria o que faz com que o movimento tenha força. “Povos maiores, mais fortes conseguem cobrar do governo suas demandas com mais facilidade”, disse. O cacique ressaltou ainda que além da violência fundiária, os povos indígenas vêm sofrendo com a desnutrição das crianças, alcoolismo e uso de drogas. “Estes problemas diminuíram em todas as aldeias onde políticas públicas foram implantadas”, completou.
O primeiro Acampamento dos Povos Indígenas da Bahia tem representações de 143 comunidades e 22 etnias dos quase 57 mil índios no estado. No Centro Administrativo, em Salvador, eles debatem território, conjuntura, direitos, cultura e política indígena no Brasil.