Não, não temos agido bem; não estamos tratando as florestas, as águas, o ar e o solo com a devida gratidão pelos serviços que nos prestam; ainda não abrimos mão de um modelo de exploração ambiental decadente, do consumo inconsequente. São esses e outros excessos de negação que fizeram com que o coronavírus (COVID19) chegasse a nós humanos, atravessasse fronteiras imaginárias e agravasse, em particular no Brasil, as crises já existentes – econômica, financeira, política, ambiental, na saúde pública.
Particularmente, do ponto de vista ambiental, o coronavírus diz-nos que muitos dos ideais do calendário verde, como os do Dia Mundial da Floresta e do Dia Mundial da Água, respectivamente, 21 e 22 de março, se tivessem sido adotados mais amplamente, reduziriam consideravelmente as chances dessa sua assombrosa dispersão pelo mundo. Nós (e outros seres vivos) dependemos dos ecossistemas das florestas e das águas, os quais são correlatos, mas, seja direta ou indiretamente, não os respeitamos, e, por isso, estamos pagando um alto preço.
No caso do COVID19, esse preço é visível nas contaminações das pessoas e no medo de que continuem a avançar, causando mais mal-estar físico, emocional, social e mortes. O preço está, também, na paralisação da economia e em todos os seus impactos sociais, muitos dos quais já são da nossa vergonhosa convivência: alto desemprego, retorno ao mapa da fome, enfraquecimento do SUS (Sistema Único de Saúde), tudo isso em decorrência das implantações do teto dos gastos e da reforma trabalhista que se deram após o Golpe de 2016 e inspiram outros desmontes de direitos sociais no atual governo.
A pandemia instaurada diz-nos, pois, que fracassamos, dentre outras coisas, ao não usarmos o nosso potencial de atenuar os estragos ambientais com as tecnologias inteligentes que temos em mãos; chama-nos, ao mesmo tempo, à ação imediata, independentemente de siglas partidárias, do país. Estamos diante de um problema sanitário mundial que requer, de cada indivíduo, pequenas (mas preciosas) ações de autocuidado e cuidado para com o seu semelhante; que clama por lideranças competentes, proporcionais aos desafios impostos pelo inimigo invisível – o COVID19, por chefes de Estado minimamente lúcidos para conduzirem as suas equipes – o que, obviamente, não é o caso do Brasil, como revelou o comportamento debochado de Jair Bolsonaro, em especial no dia 15 de março, ao agir contra as orientações do Ministério da Saúde e de alguns organismos internacionais, como a OMS – Organização Mundial da Saúde –, ironizando a gravidade do problema que o mundo todo assiste em estado de pânico.
E nós? O que temos a dizer ao coronavírus?
Reconhecemos as nossas fragilidades. Apesar de tudo, da sua força contra a nossa imunidade, dos erros que há séculos a humanidade tem cometido perante a natureza, iremos vencê-lo de muitas formas: inicialmente, por reforçarmos a nossa fé, por sermos mais cuidadosos uns com os outros, mais higiênicos, por nos olharmos individualmente com mais carinho. O fortalecimento da nossa imunidade depende muito disso também. Dizemos ao COVID19 que temos ciências, médicos e demais profissionais de saúde (os quais muito nos orgulham), educadores, especialistas, sérias lideranças políticas, comunidades, todos comprometidos em combatê-lo e em colher aprendizados que nos serão úteis no combate a tantos outros sérios problemas existentes e que poderão existir.
Marcelino Galo é deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores Bahia, líder do PT na Assembleia Legislativa da Bahia e coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista.