Há 36 anos, o mundo assistiu a pior tragédia química da história. Entre os dias 02 e 03 de dezembro de 1984, a cidade de Bhopal, na Índia, viu ceifar milhares de vidas humanas, após a fábrica de agrotóxicos Union Carbide Corporation, hoje sob o domínio da Dow Chemical Company, desastrosamente vazar 40 mil toneladas de gases tóxicos letais. Estima-se que cerca de 30 mil pessoas morreram e que mais de 150 mil tiveram que conviver com doenças crônico-degenerativas. Até hoje muitas são as que ainda dependem de cuidados médicos; muitas foram as crianças que nasceram com malformações e com doenças relacionadas à intoxicação dos seus pais.
Infelizmente, mesmo diante desse desastre e suas dolorosas consequências, o mundo se vê acorrentado a um modelo de produção agrícola que compromete a saúde das populações: o mercado de agrotóxicos tem tido todo o aparo necessário para continuar a ceifar vidas humanas, direta ou indiretamente. Não apenas aqueles que lidam diretamente com os agrotóxicos estão sujeitos aos seus impostos prejuízos, mas também todos nós, seja através do consumo de alimentos por eles contaminados, seja por meio do ar, da água e da terra por eles poluídos.
No Brasil, por exemplo, só este ano mais de quatrocentos venenos foram acrescidos à sua vasta lista de tóxicos agrícolas, ou seja, temos nas nossas mesas algumas centenas a mais de tóxicos a comprometerem as nossas vidas. Em razão desse estado de acobertamento daquele mercado, cada vez mais as pessoas estão doentes e dependentes de remédios para sobreviverem. O relato de doenças intimamente ligadas ao uso indiscriminado desses venenos é extenso: desregulações hormonais, malformação, cânceres, distúrbios do sistema nervoso, imunológico e reprodutivo, são alguns dos problemas que nos têm acometido. Além disso, preocupa-nos também os danos à fauna e à flora provocados pelo uso de venenos nas plantações.
Que este dia 03 de dezembro, data que nos remete àquela tragédia na Índia, nos impulsione não apenas a refletirmos sobre as mazelas criadas pela indústria de agrotóxicos, mas também nos faça agirmos no sentido de colocarmos em cena as políticas de índole agroecológica de combate ao modelo de produção agrícola fomentado pelo agronegócio. Na Bahia, por exemplo, o Projeto de Lei 21.314/2015, que dispõe sobre a proibição da pulverização de agrotóxicos realizada por meio de aeronave em todo o estado, e o Projeto de Lei 23.407/2019, que institui a Política Estadual de Redução de Agrotóxicos, têm, na sua essência, o espírito de luta e de valorização da vida celebrado neste Dia Internacional de Luta contra os Agrotóxicos.
Marcelino Galo
Deputado Estadual
Líder do PT na Assembleia Legislativa da Bahia